A infeção por Osteomielite
A osteomielite é a infeção de um osso, ou seja inflamação e destruição do osso causada por uma bactéria infetante. Independentemente do modo como começou, as características da osteomielite crónica são constantes, com envolvimento de uma ou mais zonas do osso e numa fase tardia acaba por envolver as partes moles, i.e. periósseo, músculo e mesmo a pele circundante.
Qualquer condição que leve à inoculação de bactérias no osso pode levar ao desenvolvimento de osteomielite. A disseminação por via hematogénea (ou seja, pela corrente sanguínea) é a forma clássica de osteomielite na infância mas, hoje em dia, não é a mais comum.
Atualmente, a esmagadora maioria das osteomielites são adquiridas por via exógena, ou seja, por algum tipo de quebra na integridade da barreira entre o osso e o meio ambiente exterior. O maior fator de risco para que isso aconteça são as fraturas expostas. Ou seja, fraturas em que há rotura da pele e o osso fica exposto às bactérias.
Para além da exposição da fratura, a necessidade de tratamento cirúrgico das fraturas ou qualquer outra patologia em que seja necessário fazer uma cirurgia sobre o osso (por exemplo osteotomias para correção de deformidades) vão criar uma situação de exposição do osso ao meio ambiente que, apesar de ser realizada num meio controlado e estéril, também se constitui como um fator de risco para adquirir uma infeção.
Para além disso, outros fatores de risco mais clássicos como obesidade, imunossupressão, tabagismo e mesmo diabetes, são fatores de risco para osteomielite pois diminuem a capacidade do sistema imunitário para lutar contra a contaminação bacteriana.
Outra forma comum de osteomielite é muito especifica dos doentes diabéticos e deve-se à progressão da infeção que começa no leito de uma úlcera. Ou seja, é uma forma de osteomielite por contiguidade, que começa por ser uma infeção superficial que vai progredindo na profundidade até atingir o osso.
Perante uma suspeita de infeção a avaliação da história clínica à procura dos fatores de risco e o exame objetivo são sempre o primeiro passo. No entanto, apenas a drenagem purulenta pela ferida cirúrgica numa fase aguda ou a presença de uma fistula numa fase crónica serão indicativos de infeção.
Na maioria dos casos os sinais são mais subtis e incluem dor local exagerada, derrame articular no caso de fraturas que atinjam articulações ou alterações sugestivas nas radiografias (falência de material, osteólise ou atraso na consolidação da fratura). Pode ou não haver elevação de parâmetros inflamatórios nas análises sanguíneas.
Numa fase mais tardia a infeção pode manifestar-se como uma falência do material de fixação da fratura com osteólise (perda de osso) à volta dos implantes ou mesmo a não-união (pseudartrose) da fratura.
Em qualquer caso o sinal de alarme é a dor persistente que não melhora de forma significativa com o tempo. Nos casos mais crónicos pode também surgir uma fistula na pele, isto é uma pequena ferida, que vai permitindo a drenagem entre o osso e a superfície. Esta drenagem pode ser mais ou menos intensa com liquido mais ou menos purulento e pode inclusivamente ser intermitente com períodos em que entra em remissão.
Na maior parte das situações o diagnóstico de osteomielite é relativamente simples. A clínica inclui dor e sinais inflamatórios locais. É também frequente a existência de uma fistula cutânea com drenagem que pode ser claramente purulenta ou de liquido com aspeto mais inocente mas que não deixa de traduzir uma infeção óssea.
Para além de afirmar ou excluir a existência de osteomielite, o passo seguinte é avaliar melhor a extensão da doença em termos anatómicos com RX, TAC e até RMN, mas também o grau de repercussão sistémico (com análises ao sangue) e o tipo de hospedeiro em que essa osteomielite está presente.
A não ser naqueles casos em que se considere que um eventual tratamento fosse causar maior impacto que a própria doença (ex. hospedeiro tipo C), a cura da osteomielite crónica envolve sempre algum tipo de tratamento cirúrgico uma vez que os antibióticos isoladamente não conseguem erradicar as bactérias que colonizam o osso infetado (i.e. sequestro).
O tratamento é sequencial e implica:
1) a limpeza/desbridamento cirúrgico de todo o osso infetado onde se colhem amostras para estudo microbiológico de forma a isolar a(s) bactéria(s) infetante(s);
2) ocupar o espaço vazio/morto de modo a que este não se torne um “santuário” para as bactérias;
3) fixar/estabilizar caso haja falta de continuidade óssea;
4) cobertura de partes moles adequadas (uma vez que o osso só cicatriza e só se consegue curar a infeção se houver musculo e/ou pele saudável a envolvê-lo e;
5) antibióticos adequados e dirigidos à(s) bactéria(s) infetante(s).
Articulações danificadas por uma prótese são complicações que podem levar a situações muito dolorosas e exigir uma reintervenção cirúrgica para resolver o problema.
Essa é a minha paixão e área de investigação clínica e o principal foco da minha atividade nos últimos anos. Resolver complicações associadas a próteses que não correram bem é a minha grande especialidade
Copyright © 2024 Ricardo Sousa Ortopedia Todos os Direitos Reservados
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